terça-feira, 3 de maio de 2011

Tecnologia e nutrição são os grandes responsáveis pelas mudanças no corpo humano ao longo do tempo

O Globo

Por cerca de três décadas, o economista Robert W. Fogel, ganhador do prêmio Nobel, pesquisou o que a forma e o tamanho do corpo humano dizem sobre as mudanças econômicas e sociais através da história e vice-versa. Sua pesquisa tem gerado não só um novo ramo de estudo histórico, mas também uma teoria provocativa de que a tecnologia acelerou a evolução humana de uma forma sem precedentes durante o século passado, segundo reportagem do "New York Times".
No próximo mês a Universidade de Cambridge publicará a pedra angular desse inquérito: "The Changing Body: Health, Nutrition, and Human Development in the Western World Since 1700," ("O corpo mutante: saúde, nutrição e desenvolvimento humano no mundo ocidental desde 1700"), um livro que resume o trabalho em um projeto ambicioso que alguns consideram como o desenvolvimento mais significativo na longa história da humanidade.
Fogel e os coautores Roderick Floud, Bernard Harris e Sok Chul Hong, sustentam que, "na maioria, se não em todas as partes do mundo, o tamanho, a forma e a longevidade do corpo humano têm mais alterações substanciais durante os últimos três séculos do que ao longo de muitos milênios anteriores". Além disso, segundo eles, esta alteração aconteceu em um prazo "minuciosamente curto para os padrões da evolução darwiniana."
- A proporção das mudanças humanas tecnológicas e fisiológicas no século XX é notável - disse Fogel de Chicago, onde dirige o Centro de Economia da População da escola de negócios da Universidade de Chicago. - Além disso, a sinergia entre tecnologia e fisiologia é mais do que a simples adição das duas coisas.
Esta "evolução tecnofisio", alimentada pelos avanços na produção de alimentos e saúde pública, tanto ultrapassou a evolução tradicional - defendem os autores - que as pessoas hoje se destacam não só de todas as outras espécies, mas também de todas as gerações anteriores de Homo sapiens.
- "Eu não sei se existe uma história maior na humanidade que melhorias na saúde incluindo peso, altura, invalidez e longevidade - disse Samuel H. Preston, uma das lideranças do mundo entre os demógrafos e sociólogo da Universidade da Pensilvânia. Sem as melhorias do século XX em nutrição, saneamento e medicina, apenas a metade da população atual dos Estados Unidos estaria viva hoje, segundo ele.
Para pegar alguns exemplos, um homem comum em 1850 media 1m70 de altura e pesava cerca de 66Kg, com expectativa de vida de 45 anos. Em 1980 o homem típico com cerca de 30 anos media 1m78, pesava quase 80Kg e passava dos 75 anos de vida. Na época da Revolução Francesa, um francês de 30 e poucos anos pesava cerca de 50Kg, comparados com os 77Kg de hoje. Na Noruega um jovem de 22 anos tinha cerca de 14cm a mais de altura no fim do século XX que no meio do século XVIII.
O grande feito dos pesquisadores foi conseguir uma maneira de medir os ganhos no volume corporal. Muitos dados estavam disponíveis - crescimento infantil, mortalidade, padrões de vida adulta, produtividade de trabalho, alimentos e produção industrial - mas ninguém tinha juntado os dados dessa maneira antes. O livro é recheado de estatísticas e gráficos que incluem as mais variadas informações, como o peso das meninas na Croácia e na Alemanha; as calorias das batatas, peixe e vinho; o subsídio anual médio de grãos e carnes para as viúvas no condado de Middlesex, Massachusetts, de 1654 a 1799 - um testemunho impressionante do acúmulo de informações da empreitada.
O argumento básico é bem simples: a saúde e a nutrição das grávidas e seus filhos contribuem para a força da geração seguinte. Se os bebês forem privados de nutrição no útero e no início da infância serão mais frágeis e mais vulneráveis a doenças mais tarde. Estes adultos enfraquecidos, por sua vez, vão produzir filhos fracos em uma espiral de auto-reforço.
A tecnologia resgatou a humanidade de séculos de males físicos e desnutrição, segundo Fogel. Antes do século XIX, a maioria das pessoas era capturada em um ciclo interminável de agricultura de subsistência. Um fazendeiro da era colonial, por exemplo, trabalhava cerca de 78 horas durante uma semana de cinco dias e meio. As pessoas precisavam de mais alimentos para crescer e ganhar força, mas eram incapazes de produzir mais comida sem serem fortes.
- Em muitas partes do mundo, incluindo os Estados Unidos no século XX, os avanços da medicina parecem ser pelo menos tão importantes quanto a melhoria da ingestão alimentar - disse Fogel.

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